Quantas vezes já ouvimos que a juventude muda o mundo pela
sua característica inquieta, transformadora, idealizadora e questionadora? Por
ser formadora de opinião, por vezes intrusa. Às vezes ainda, a água que racha o
concreto de uma sociedade. Não devemos então questionar sua força potencial,
pois já estudamos em história suas comprovações empíricas.
Ainda que saibamos da sua capacidade, quando visualizamos
nos tempos atuais tais características, não enxergamos. Vemos neblina,
contradição. Ora, cadê essa força escondida? Por que ela não aparece?
Podemos constatar tal fato em várias vertentes, inclusive na
política. Porém, não entrarei nesse mérito pois é opcional a escolha de cada
cidadão, portanto que haja coerência de opinião. Gostaria de chamar atenção
quanto a música. O que você acha sobre a música que se produz hoje em dia?
Quantas vezes já ouviu que a qualidade musical atual é ruim? Será que há
relação com características da sociedade atual?
Saudamos os anos 80 por toda sua qualidade musical, poder de
questionamento, de criação de opinião e de não aceitação com o que nos é posto
goela abaixo. Nessa época Renato Russo perguntava: ‘Que país é esse?’, Humberto
Gessinger também indagava: ‘Quem são eles? Quem eles pensam que são?’, entre
outros. Havia, nos jovens, paixão para mudar o que não concordavam. Havia uma
indução musical para isso. Haviam artistas, de fato.
Os jovens tinham poder e energia de sobra pra protestar.
Além dos motivos claros de um governo que tratava/trata com descaso tantas
coisas, só se estudava. Podia-se dar ao luxo de sair de casa, ir numa passeata
protestar, ou dizer nas músicas o que queriam dizer, pois não deviam favor à
ninguém e só dependiam de si próprio.
Hoje as músicas não dizem nada. Contam as histórias comuns
de qualquer um que sai do quarto e tem uma dor de cotovelo, ou se apaixonam.
Não satisfeito com tamanha mediocridade, há pior tipo: as músicas que induzem
as pessoas a serem vagabundas (no sentindo de desleixadas, não trabalhar, não
querer nada com nada), de transarem com todos sem o mínimo cuidado ou respeito,
enfim.
O reflexo se encontra na sociedade. Se encontra no que faz
sucesso, o funk, por exemplo. Ele e suas letras altamente nocivas. Não tenho
nada contra o funk, mas suas letras, em grande maioria, são nocivas e
medíocres, sim. Quantos jovens, adolescentes, se vêem hoje em dia com filho pra
criar? Quantos têm que ralar dobrado pra compensar tamanho desleixo passado?
Não é à toa que o funk hoje em dia é um sucesso. Não é à toa
sua defesa pela mídia, pelos tomadores de opinião. Não que não deva ser apoiado
por ser um movimento cultural, no qual é uma maneira de expressão de pessoas
mais humildes, mas pelo que ele REALMENTE INFLUENCIA.
Quando se percebeu a vantagem que o funk poderia trazer para
a sociedade, vista pela ótica dos poucos que tomam opinião, que não querem ser
perturbados, começou-se a valorizar o que até então era discriminado. O quão
questionador, revolucionário, como prefira, pode ser um cidadão que tem filho
pequeno pra criar, ou que mal tem tempo de descansar quando sai do trabalho?
A sociedade se torna cada vez mais fácil de se conduzir pela
ótica dos governantes. Os jovens que deveriam ser a força, não têm mais tal
força, por estarem sendo, cada vez mais, induzidos a terem mais
responsabilidades do que deveriam ter, proporcionalmente a sua idade.
Faz sentido, não faz? Pode parecer teoria da conspiração,
mas não se engane. De simples não há nada nesse emaranhado de artimanhas. Pelo
poder, vale tudo. Ao menos para eles. Afinal, que mal há se não enxergam o que
se passa? Fica assim, o dito pelo não dito e vida que segue. O abismo é logo
ali...