sábado, 20 de outubro de 2012

Ensaio sobre a atualidade.


Quantas vezes já ouvimos que a juventude muda o mundo pela sua característica inquieta, transformadora, idealizadora e questionadora? Por ser formadora de opinião, por vezes intrusa. Às vezes ainda, a água que racha o concreto de uma sociedade. Não devemos então questionar sua força potencial, pois já estudamos em história suas comprovações empíricas.
Ainda que saibamos da sua capacidade, quando visualizamos nos tempos atuais tais características, não enxergamos. Vemos neblina, contradição. Ora, cadê essa força escondida? Por que ela não aparece?
Podemos constatar tal fato em várias vertentes, inclusive na política. Porém, não entrarei nesse mérito pois é opcional a escolha de cada cidadão, portanto que haja coerência de opinião. Gostaria de chamar atenção quanto a música. O que você acha sobre a música que se produz hoje em dia? Quantas vezes já ouviu que a qualidade musical atual é ruim? Será que há relação com características da sociedade atual?
Saudamos os anos 80 por toda sua qualidade musical, poder de questionamento, de criação de opinião e de não aceitação com o que nos é posto goela abaixo. Nessa época Renato Russo perguntava: ‘Que país é esse?’, Humberto Gessinger também indagava: ‘Quem são eles? Quem eles pensam que são?’, entre outros. Havia, nos jovens, paixão para mudar o que não concordavam. Havia uma indução musical para isso. Haviam artistas, de fato.
Os jovens tinham poder e energia de sobra pra protestar. Além dos motivos claros de um governo que tratava/trata com descaso tantas coisas, só se estudava. Podia-se dar ao luxo de sair de casa, ir numa passeata protestar, ou dizer nas músicas o que queriam dizer, pois não deviam favor à ninguém e só dependiam de si próprio.
Hoje as músicas não dizem nada. Contam as histórias comuns de qualquer um que sai do quarto e tem uma dor de cotovelo, ou se apaixonam. Não satisfeito com tamanha mediocridade, há pior tipo: as músicas que induzem as pessoas a serem vagabundas (no sentindo de desleixadas, não trabalhar, não querer nada com nada), de transarem com todos sem o mínimo cuidado ou respeito, enfim.
O reflexo se encontra na sociedade. Se encontra no que faz sucesso, o funk, por exemplo. Ele e suas letras altamente nocivas. Não tenho nada contra o funk, mas suas letras, em grande maioria, são nocivas e medíocres, sim. Quantos jovens, adolescentes, se vêem hoje em dia com filho pra criar? Quantos têm que ralar dobrado pra compensar tamanho desleixo passado?
Não é à toa que o funk hoje em dia é um sucesso. Não é à toa sua defesa pela mídia, pelos tomadores de opinião. Não que não deva ser apoiado por ser um movimento cultural, no qual é uma maneira de expressão de pessoas mais humildes, mas pelo que ele REALMENTE INFLUENCIA.
Quando se percebeu a vantagem que o funk poderia trazer para a sociedade, vista pela ótica dos poucos que tomam opinião, que não querem ser perturbados, começou-se a valorizar o que até então era discriminado. O quão questionador, revolucionário, como prefira, pode ser um cidadão que tem filho pequeno pra criar, ou que mal tem tempo de descansar quando sai do trabalho?
A sociedade se torna cada vez mais fácil de se conduzir pela ótica dos governantes. Os jovens que deveriam ser a força, não têm mais tal força, por estarem sendo, cada vez mais, induzidos a terem mais responsabilidades do que deveriam ter, proporcionalmente a sua idade.
Faz sentido, não faz? Pode parecer teoria da conspiração, mas não se engane. De simples não há nada nesse emaranhado de artimanhas. Pelo poder, vale tudo. Ao menos para eles. Afinal, que mal há se não enxergam o que se passa? Fica assim, o dito pelo não dito e vida que segue. O abismo é logo ali...

3 comentários:

  1. Essa é uma visão muito extremista, cara.

    Há MUITA gente fazendo música boa por aí. É só saber procurar, sugiro que você escute Céu, Lucas Santtana, Criolo, Emicida, Vanguart, por aí vai. São músicas de boa qualidade.

    Quanto à falta de revolta, eu acho essa questão bem simples. Nos anos 80 havia um inimigo contra o qual lutar, a ditadura, a falta de democracia, etc... Em uma democracia, há um espírito geral de participação, ao invés de simples oposição. Não nos revoltamos porque fazemos parte da política atual. É claro que nosso sistema político ainda é falho e gera descontentamentos, mas não há mais algo claro para se opor, que convergia todas as opiniões.

    Você disse que as letras atuais falam muito mais do cotidiano do que de uma situação política. Pois acho isso essencial, pois finalmente os músicos estão podendo voltar sua criatividade para as formas de arte pura. Quando se mistura política e cultura, surge um conteúdo de expressão, não de arte.

    Agora, quanto ao funk. As pessoas vivem dizendo que é uma música que influencia a práticas pouco morais ou louváveis. Pois eu acho engraçado, porque o funk é justamente uma expressão, ou seja, um reflexo de uma sociedade à parte da nossa, que já vive sob esses valores duvidosos. O funk não influencia as pessoas a serem machistas pela letra, por exemplo, mas as suas letras são machistas porque são o reflexo da sociedade em que esses músicos vivem.

    Ou seja, o funk é consequência, não a causa, do que vemos de problemático na nossa população.

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  2. Vou responder por tópicos como comentaste:

    -Quando me refiro as músicas que se fazem hoje em dia, digo único e exclusivamente, o que toca. O que se mostra. Eu sei que no underground rola música boa. Cachorro Grande é um bom exemplo. Quanto aos rappers, não quero comentar sobre eles pq tenho muitos amigos que ouvem rap e não gostam dos rappers que aparecem na mídia e perdem a identidade do undergound, ou seja, o malho que desciam no Estado.Não estou generalizando, até pq conheço pouco dos mesmos.

    -Concordo que nos anos 80, com a falta de liberdade e tudo mais, era muito mais fácil se fazer música 'de revolta' e ter-se o quê questionar. Mas, sinceramente, a sociedade de hoje está longe de não ter com o que se opor, ainda que não haja um governo no qual se possa apontar o dedo de forma mais clara. A falta de músicas de expressão soa como se não tivesse o que reclamar. Gozado que os rappers que tanto criticam, no underground, não aparecem. Acho que ai que mora o 'x' da questão. Quem é pró-governo toca, ou quem não fede nem cheira, quem é contra vai virar independente e boa sorte. Mas enfim...
    -Acho ótimo ter-se grande parte das músicas como arte pura, mas há uma ABISSAL falta de questionamento, e isso não é justificado pelo afloramento 'da arte pura'. Não são coisas excludentes.
    -A questão do funk, que na sua origem era um movimento com letras de questionamento quanto a segregação e/ou discriminação e não com o tom machista atual, pra mim, soa muito mais complexa. O funk não faz as pessoas serem machistas, mas ele intensifica. E intensifica muito mais por estar, AGORA, sendo apoiado, pois há um interesse por trás. Ou seja, a sociedade julga machismo como algo pejorativo e que deve ser mudado, porém bate palma e distribui esse tipo de música. O funk tem suas vertentes. Não generalizo. O funk pra mim FOI consequência. Hoje, ele é causa, melhor, é um instrumento de alienação.

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  3. Danilo, primeiramente gostaria de parabenizá-lo pelo texto. Corajoso e Incisivo como deve ser mesmo. Muito bom. Você tem uma escrita muito apurada e rebuscada, cara. Se jornalismo fosse valorizado no Brasil, falaria pra ti que você está perdendo tempo. Continue sempre a escrever. Isto faz um bem danado.

    Então, tenho uma opinião um tanto quanto parecida sobre este assunto.
    Inegavelmente, no ponto de vista teórico não irei julgar o que seria música boa ou ruim, mas se nós escutarmos a MPB FM durante alguns minutos, notaremos que temos poucas músicas novas , ainda se toca muito coisa antiga e, por dedução, podemos ver que tem inúmeros artistas que não compõem uma música nova há anos. Logicamente o Brasil, que tem dimensões continentais, tem diversos bons artistas, porém o problema é o mercado. O dinheiro da indústria da fonográfica, das rádios, entre outras coisas. Apesar da crítica clichê, é isto que ocorre, infelizmente.

    No ponto da ditadura, o que aconteceu foi uma espécie de acomodação. A importância dos cantores naquela época contribuiu demais para a história do Brasil. Os movimentos, os festivais, entre outras coisas. Porém, nisto, ao meu ver, é que reside o perigo. Vou exemplificar para tentar ficar mais claro, o Caetano Veloso tinha várias canções contra a repressão, como o país estava naquela época, contra os opressores, etc. E agora? O país está bem? E ele não tem mais canções assim. Vende seus discos em programas da Globo, como Faustão, Altas Horas, detém uma coluna no Jornal Globo. Chega ser um pouco antagônico. Umas espécie de venda da ideologia. É estranho. Neste ponto, eu tiro o chapéu para o Chico Buarque.


    Finalizando, o funk só era interessante para ser estudado, quando se pensava em fazer isto sério. Raps, músicas de amor, que juntamente com a batida era uma espécie de manifestação da favela para a sociedade cega e sempre desleal, dizendo: " Opa, peraí, eu existo, e sei fazer música também". Porém, com as brigas nos bailes, o funk recebeu um estereótipo totalmente marginalizado, e os seus compositores acharam que eles teriam que compor somente para a favela( Na minha concepção totalmente errado isto) e o cuidado com as letras ficou ainda pior.Hoje em dia se faz um funk de ostentação totalmente descartável, a música é sucesso durante 3 dias em noitadas caras. Acabaram com a ideologia da parada. Ridículo.

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